Quarta fase - 1988/1992_ Liveman, Turboranger, Fiveman, Jetman, ZyurangerAté aqui, nós vimos como o gênero Super Sentai aos poucos declinou aos temas espaciais, que passariam a ser um marco importante daqui para frente. Visto de um modo tímido na fase inicial, com Denjiman, até virar tema principal, com Changeman, numa era de transição que buscava tornar visual o que até então só se imaginava, o mote espacial criou uma minirevolução no gênero. Isso quando foi aprofundado de vez, na terceira fase, onde apesar do sucesso viriam críticas, já que a referência daquela época era o Star Wars de George Lucas_ o que não deixou de soar como tolice para quem comparou uma produção de cinema mundial com outra de TV mais restrita.
Mas foi só com Maskman e sua história mais "terrena" que a década de 80 ganhou uma cara nova, inaugurando a quarta fase. Aqui, o espacial aparece mais como uma experiência acumulada e menos como uma obsessão. O legado de Maskman é visto em quase toda esta fase, em termos visuais. Em termos de qualidade, é exemplarmente refletido em Liveman, mas já nem tanto em Jetman e Zyuranger.
Esta fase acertou, principalmente, em manter a temática mais adulta. Com isso, o Super Sentai deixava de ser um "programa de criança". Liveman é a série sentai mais adulta que já existiu, onde não há quase nenhuma referência infantil. É uma das mais completas também, onde bastam três ou quatro episódios para se ter um extenso panorama do alcance da trama.
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Basicamente, Liveman é uma série que mostra uma luta entre seres humanos. O núcleo da história é uma academia de ciências, onde um grupo de alunos se revolta e abre mão até de sua humanidade para servir o misterioso Doutor Bias e sua avançada ciência do mal. Incentivados por Bias a competirem até entre si, se odiando mutuamente, eles almejam o título de "gênios" com um temível desprezo por tudo o que há na Terra, inclusive a vida. Para tentar barrá-los, outro grupo de estudantes, que acredita e tem esperança no futuro das pessoas, usa a ciência que tem para criar o esquadrão Liveman, um grupo que se inicia com três membros e mais a frente ganha outros dois_ estes vítimas diretas do bando de Bias.
Liveman chama a atenção pela consistência dos roteiros, que muitas vezes criam episódios isolados que surpreendem bastante. Ao longo desses episódios, é comum vermos alguns vilões modificando o próprio corpo para ter mais poderes, enquanto outros aparecem quando menos se espera, trazendo junto muito suspense e mistério. Por motivos assim eu diria que Liveman é uma série onde os vilões são muito mais bem trabalhados que os protagonistas, portanto sendo indicada para todos aqueles que gostam de uma trama onde exista aquela turma do mal que detone do começo ao fim. Foi talvez o primeiro sentai a apostar nesse tipo de coisa, mas aqui as opiniões podem variar. Quem concorda pode dizer que a evolução chegou para os vilões a partir daqui.
Na tecnologia, é muito legal repararmos como Liveman conseguiu desenvolver bem os efeitos luminosos que o público viu "sair" das bazucas de Flashman e Maskman. Com um melhor domínio desses efeitos, já era possível disfarçar bem aquelas edições de imagem em que o monstro explodia, por exemplo. Criou-se uma técnica onde, logo após a queda do monstro, na hora da montagem, os efeitos luminosos
encobriam a explosão falsa da filmagem real. Com uma edição assim, não havia mais noção em usar uma cópia de porcelana do monstro para explodi-la, um dos piores arranjos já vistos, e que foi muito usado em Changeman. O resultado ficaria tão bom que seria parte dos efeitos especiais de muitos futuros sentais, desta e da próxima fase.
Além de todo o porte que tem, a série merece menção ainda por sua trilha sonora, com o ator Daisuke Shima cantando abertura/encerramento e também a ótima
Utsukushuu Dreamer, tema do seu personagem Yusuke Amamyia/ Red Falcon. Com tantas contribuições, Liveman é o grande destaque do que eu entendo como a quarta fase na evolução dos Super Sentais.
Velozes e curiososUma nova moda no gênero Super Sentai nascia em 1989, junto com o esquadrão Turboranger: em vez de um tema central, até três assuntos diferentes podiam ser vistos desenvolvendo a história daqui para frente. Antes disso, acho que mesmo Liveman se baseou em um tema só, já que dá para resumir o fio da trama inteira a partir da frase de abertura: "Amigos, por quê fizeram isso?". Com Turboranger, havia o clima escolar, o tema dos carros e da velocidade e um forte apelo ecológico. A vantagem obtida com séries de múltiplos temas foi um melhor trabalho na concepção dos personagens, no sentido de variar as personalidades. Em 1989, por exemplo, tínhamos no lado do tema escolar a professora Yamaguchi e os futuros vilões Nagareboshi e Tsukikage. Pregando a preservação ecológica havia o professor Dazai, a simpática fadinha Sealon e Lakia, um animal lendário protetor da Terra_ os três aliados dos guerreiros Turboranger, cinco colegiais que usavam poderes baseados em veículos sobre rodas.
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Por ser a pioneira em tanta variedade, Turboranger foi uma série muito curiosa, em que é difícil prever a próxima surpresa. Para se ter uma ideia, praticamente todos os vilões que aparecem no inicio do seriado são gradualmente derrotados e substituídos antes mesmo do episódio 30, com isso alterando também o clima da história, que de descontraída passa a ser quase tão pesada quanto Liveman.
Surpresas foram reservadas também no campo dos robôs gigantes. Afinal, dez anos após a estreia do Dai Robotto do Battle Fever eles já eram uma marca registrada no gênero Sentai. Depois de se tornar habitual as equipes combinarem seus dois robôs em um maior, Turboranger inovou ainda mais, dando uma forma de combate para a base Turbobuilder, a gigantesca fortaleza móvel dos mecha-veículos da equipe. Quando unida aos dois outro robôs do time, gerava a Turbobuilder Robot Mode, de proporções colossais e impressionantes ainda para os dias atuais.
O bom resultado visto nos efeitos especiais de Liveman e Turboranger fez com que o sentai seguinte, Fiveman, expandisse as possibilidades dos efeitos luminosos para muito além de cenas de explosão. Foi uma boa aposta. Hoje em dia, só aqueles críticos mais caretas consideram esses efeitos com um visual ainda tosco. Mas é inegável o avanço que eles trouxeram, principalmente porque conseguiram inovar, exibindo muitos movimentos de luta nunca vistos antes, onde a compreensão da ação pelo espectador é imediata. Analisados com mais otimismo, os efeitos luminosos ajudaram a livrar muitas cenas da aparência de coisa improvisada.
Muito além dos disparos de armas e bazucas, esses efeitos em Fiveman podem ser vistos no Melody Batton de Five Yellow, criando uma poderosa fita laser que envolve o corpo do inimigo, ou ainda incrementando o
gattai do Five Robo. Em ambos os casos, nós podemos reparar que os efeitos traziam outra importante contribuição a partir daqui: uma inédita
velocidade no desenrolar da ação. Pelos sentais mais modernos, nós vemos o quanto uma ação veloz é importante para manter a qualidade de seus enredos. Com isso, podemos concluir que a ampla aposta de cenas com efeitos luminosos desta quarta fase foi fundamental para ditar o ritmo que muitas cenas de ação teriam no futuro. Ao mesmo tempo que melhorava a estética, o efeito luminoso pedia para ser melhorado, e isso já fornecia as bases da evolução para os anos seguintes.
Tecnologia à parte, Fiveman tem um clima muito similar ao de Turboranger, talvez por repetir um pouco do ambiente escolar. Mas se antes os guerreiros eram colegiais, desta vez são professores. Outra característica inédita é que todos são irmãos. Eles tiveram os pais mortos pelos vilões de Zone durante uma missão interplanetária, e são criados na Terra pelo robô Arthur até se tornarem guerreiros. Nessa história, a influência de Arthur é tão grande quanto a de Mag para os Flashman. Além disso, Fiveman me pareceu ser outro sentai que tenta atrair o público mais velho por ter algumas simbologias que nunca são explícitas no enredo (e difíceis de serem compreendidas por crianças), como por exemplo a da flor, vista no primeiro episódio e também na abertura. Não conheço nenhum de nossos fansubs que tenha trabalhado em Fiveman, por isso ela segue como uma série ainda sem versão legendada para o português.
O incrível voo da estéticaA característica mais marcante desta fase, depois da notável aposta no público mais velho e nos efeitos luminosos, foi apresentar uma preocupação maior com itens de acabamento. Os heróis, que tinham cada vez mais super poderes, ganhariam armas de acordo, com design mais arrojado. Com os efeitos especiais conquistados em Maskman, que se desenvolviam gradualmente, essas novas armas "funcionavam" cada vez melhor. A estética, não só das roupas, mas dos capacetes, ganharam atenção dobrada nesta fase. Rostos de animais detalhados minuciosamente nos capacetes de Liveman, Jetman e Zyuranger fazem quase esquecer onde está o visor.
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Essa questão de acabamento caprichado é o que eu mais destacaria de Jetman. Mesmo tendo existido tantos belos designs nos sentais deste período em diante, na minha opinião o de Jetman foi tão bem trabalhado que só encontrará um rival à altura em 2010, com Goseiger. E é o melhor argumento que eu encontro para elogiar Jetman, já que para mim essa série em termos de qualidade deve muito. Parece buscar o público adulto o tempo todo, mas se perde fácil em subtramas desnecessárias envolvendo o emocional dos personagens, onde há até um triângulo amoroso. Isso me decepcionou muito, principalmente após o ótimo primeiro episódio que a série tem.
Mesmo já dispondo de uma tecnologia razoável, Jetman quis abusar, meio como Changeman, fazendo um esquadrão de homens pássaro com inedito poder de voo, o que gerou cenas de pouca qualidade, já que ainda não havia uma edição computadorizada para dar velocidade a esse efeito ficcional. Foi necessário recorrer bastante às conhecidas "cordinhas invisíveis" presas ao corpo dos atores (ou dublês).
O ano de 1992 foi reservado para a chegada de Zyuranger, uma mistureba que não se apóia em tema nenhum. Flerta ao mesmo tempo com um tema jurássico, outro espacial, com a ancestralidade, e ainda carrega uma atmosfera que remete até aos contos de fada. Mas não será por isso que eu vou criticar outro sentai (chega, né?), mesmo porque aqui essa mistura me pareceu bem dosada, e até com um resultado surpreendente. Eu só não poderia elogiar o episódio 01, que demonstrou problemas com a relatividade (só assistindo para comprovar) e um jeitão de coisa corrida. Falha ainda mais evidente do que essa se ouviu na trilha sonora instrumental, que abusou em reaproveitar várias faixas originais de Turboranger. Até houveram outras séries sentai que fizeram o mesmo, mas não com tanta frequência como aqui.
Zyuranger contribuiu um pouco para que fosse acabando a onda do "Sentai adulto", porque foi o primeiro que teve vilões de aspecto cômico até nos altos postos de tirania. Antes de Zyuranger, o papel cômico ficava para algum monstro ou para os soldados inimigos. Mesmo sendo uma aposta meio radical até então, esse tipo de inovação não trouxe nenhum risco para o gênero. Além do bom humor já ter sido testado e bem recebido em vilões anteriores, Zyuranger contava com uma carta na manga: a fantástica atriz Machiko Soga no papel de Bruxa Bandora, inimiga número um da equipe. Antes de falecer em 2006, Machiko brilhou em várias outras séries de tokusatsu. Entre os brasileiros, é mais lembrada por seu papel como Aracnin Morgana em Jiraiya. Em fãs como eu, que guardam na memória várias de suas "crueldades" contra os heróis, ela deixa muita saudades.
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Outras inovações importantíssimas deste Sentai de 1992 foram a adição dos mechas individuais e do sexto guerreiro, que surge no decorrer da história. A novidade dos mechas foi a melhor evolução para o caso do segundo robô (que Flashman trouxe), aliado ao
gattai de cinco veículos (inovação de Maskman). Ao invés de um carro, tanque ou jato, cada guerreiro ganharia um mecha robotizado, em alguns casos capazes até de dar cabo de um monstro gigante sozinhos! Quando combinados, ofereciam maior variedade em modelos de batalha.
Mais ainda, a chegada do sexto integrante foi um marco no gênero. Logo após o ensaio breve visto em Maskman, que exibiu no episódio 39 o lutador Mask X1, finalmente surgia o pioneiro Dragon Ranger, que chegou no episódio 17. Daí para frente, toda série sentai teria não menos do que isso, sempre reservando grandes surpresas nas chegadas dos extra-rangers.